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Inês Aroso - Escritora

Sempre sonhei ser escritora... Aqui, sou!

Inês Aroso - Escritora

Sempre sonhei ser escritora... Aqui, sou!

As bananas também se apaixonam

31.03.19 | Inês Aroso

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Eram duas bananas. Iguais a tantas a outras. Ainda verdes e rijas, viajaram dos confins, juntamente com as outras, para um contentor, para um navio, para um armazém e, finalmente, para um hipermercado de uma cidade dos subúrbios.

 

Estavam quase amarelas, quando o executivo apressado as meteu à pressa num saco, juntamente com 6 ou 7 irmãs. "Pelo menos é jeitoso", disse uma das mais atrevidas enquanto ele as arrumava na fruteira, já em casa.  O amarelo delas era cada vez mais exuberante e apelativo. Por isso, todos os dias, ao jantar, ele comia uma banana, de sobremesa. Mas foi passar uns dias fora, e duas delas ficaram esquecidas, em casa.

 

Aquele tempo sozinhas, fez com que se apaixonassem, enquanto se tornavam castanhas, moles, frágeis. Quando o homem chegou, finalmente, e olhou para a fruteira, elas pensaram que se iam separar. Apesar do medo, gritaram e até se tentaram esconder atrás das laranjas, não fossem elas bananas corajosas e apaixonadas. Mas não, ele não as ia comer! Ele trazia mais bananas! Verdes, como elas, quando eram mais novas! Olhou para as duas bananas pintadas e envelhecidas com desprezo, mas não as separou. Deitou-as ao lixo.

 

E, mesmo lá, naquele saco escuro e mal-cheiroso, ficaram felizes. Envelheceram e apodreceram juntas. "Quem dera a muitos humanos", disseram, no último suspiro.

Plano de fuga

29.03.19 | Inês Aroso

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Fez uma mala, pequena. Pouca roupa, dois livros, um álbum de fotografias. À noite, atrasou todos os relógios e despertadores de casa duas horas, para não darem falta dela, pela manhã.

 

Eram sete horas quando abriu a porta, devagar, silenciosamente. Tinha treinado aquilo durante dias. Nada podia falhar. Era a última vez. Que descia aquelas escadas. Que subia aquela rua. Que via a varanda impecavelmente florida da D.ª Lurdes ("em minha casa as flores não vivem", pensava sempre). Que sentia o aroma a pão acabado de fazer na padaria do Sr. João. Cada passo que dava apagava o trilho daquele caminho que fizera durante anos.

 

Desapareceu tão completamente que, passados alguns meses, quase ninguém se lembrava que tinha existido. Nem ela mesma, internada, naquele hospital, negro de tão branco, conseguia recordar quem fora. Sabia que gostava de ler, de ver as fotografias antigas (que percebia serem dela, de quando existira) e, de vez em quando, receber visitas. Eram os resistentes da família e amigos. Chegavam com voz doce, levavam-lhe livros e flores, mas saíam aliviados por irem embora. Magoa muito não poder ajudar quem amamos.

 

Numa tarde de Primavera, lia um livro junto à janela, quando entrou alguém no quarto que a fez estremecer. Não eram as visitas do costume, não eram os médicos, não eram os enfermeiros. Era ela, a fugitiva. Encontrou-se a si mesma. Afinal, ainda existia! Chorou. Riu. Chorou outra vez.

 

A fuga falhara! Percebeu que estava ferida. Não se via por fora. Era tudo dentro dela. Mas doía muito. Eram golpes profundos. Nas emoções, na auto-estima, no seu lado racional, nos sentimentos, nas atitudes e impulsos. Mas, pelo menos, descobrira de onde vinha a dor agonizante. Já a podiam tratar. Já não precisava fugir. Só precisava curar os ferimentos e voltar a ser ela. Ela, não. Ela tinha nome: Eva. 

Amores (im)perfeitos em co(r)pos de cristal

27.03.19 | Inês Aroso

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De súbito, um espaço em branco. A vertigem do vazio.

O tempo passa. Dos vidros estilhaçados nasce um cristal.

Tens luz em ti. Tens o mundo para nós.

 

Abraças-me. Sem medos. 

Os olhos nos olhos de quem se quer ver. Os lábios nos lábios de quem se quer falar e beijar. E beijar!

Por fim, o luar ilumina o orvalho dos corpos despidos, suados, saudosos, como esculturas despojadas em lençóis.

 

Com o amanhecer, vejo o sol a afagar o teu rosto feliz.

Sabemos que temos que partir, mas o cristal fica. Nós ficamos. Um no outro. Um do outro.

Sinto o aroma do café, que saboreio devagar, e mesmo com a lucidez do despertar, acredito que o mundo é perfeito para os seres imperfeitos, como nós.

Alice parte o espelho

23.03.19 | Inês Aroso

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Todas as manhãs, antes de sair, Alice, de 44 anos, olhava-se ao espelho.

- Que gorda!

- Que despenteada!

- Que velha!

- Que olheiras!

- Que mal-vestida!

- Que pálida!

- Que...

 

Numa dessas manhãs, tudo mudou. Ia sentada no metro para o trabalho, consultava as redes sociais e sonhava com as férias. A conversa de duas senhoras de cerca de 60 anos, bem-vestidas, ao seu lado, chamou-lhe a atenção:

- Sabes, Lídia, deitei fora o espelho lá de casa. Estava farta dos palpites dele: "olha as rugas", "olha os sinais", "já foste mais nova"...

- Mas tu estás bem, Paula? Os espelhos não falam...

- O meu fala (ou falava), que Deus o tenha!

- Tens tomado a medicação?

- Até disso deixei de precisar... Sabes, é uma metáfora...

- Eu sei, mas explica-me lá isso...

- Percebi que eu era a minha maior crítica: não ouvia nada de mal dos meus netos, dos meus filhos, nem do chatinho do meu Zé. Era eu, que me boicotava... Sempre a criticar-me e a desconfiar dos elogios se eu só me encontrava defeitos.

- E vai daí, livras-te do espelho?

- Tal e qual... E digo-te uma coisa, ao fim de três semanas já estou muito mais feliz! 

- Vamos lá tirar uma selfie, então, para comemorar! Se não, qualquer dia, já nem te reconheces...

- Só se tiveres daqueles filtros que parecemos uma divas... ou uns cães...

Riram-se às gargalhadas e Alice (com muita pena) teve que sair, chegara ao seu destino.

 

Durante todo o dia, a conversa das duas mulheres deu-lhe que pensar...

Quando acordou, no dia seguinte, resolveu partir o espelho. O marido acordou sobressaltado com o barulho.

- Alice, que se passa? Magoaste-te?

- Não, Filipe, resolvi partir o espelho... Estava farta de o ouvir...

- Deves ter tido um pesadelo... O espelho não fala. Pior: dizem que dá azar, partir espelhos!

- Não sou supersticiosa. Além disso, em vez de me ver ao espelho, prefiro perguntar a ti o que vês, aos miúdos... Quanto muito, vou-me vendo pelas fotos ou nas vidraças.

 

O marido de Alice achou aquilo muito estranho e que passados 2 ou 3 dias ela iria colocar um espelho novo. Mas não, enganou-se. Passaram-se meses e o espelho continua rachado. A imagem que ele mostra é artística. Perfeito na sua imperfeição. Tal com Alice. Tal como todas as mulheres. Ou quase todas, porque algumas vivem atrás do espelho. E são elas quem mais critica as outras mulheres. Humilham-nas, sempre que podem. Chamam-lhes "magras", "gordas", "baixas", "altas", "descaradas", "velhas", "sem sal", "feias", "claras", "escuras"; desajeitadas", enfim, o rol é extenso.

 

Por isso, temos que partir os espelhos. Não é preciso irmos buscar os martelos. Podemos simplesmente ignorá-los. E isto significa que basta aceitarmos a nossa imperfeição e não ouvirmos as vozes atrás do espelho. 

 

E este, sim, é o verdadeiro conto de fadas. Não aquele em que um espelho diz quem é a mais bonita do reino. É aquele em que a mulher enfrenta o espelho de frente, sem medos: "Eu sou como sou, linda por dentro e por fora, a opinião dos outros não me interessa". 

Até o melhor montanhista precisa descer, para poder subir ao cume...

22.03.19 | Inês Aroso

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Não gosto que me vejam triste. Fujo das pessoas que sei que ficarão magoadas por verem que o meu sorriso, por muito genuíno que seja não esconde a tristeza, que se esconde, lá no fundo, no olhar. Evito que me olhem nos olhos. Falo de banalidades, oculto fragilidades. Disfarço a sonolência, o sofrimento e o cansaço. Faço um esforço por parecer eu mesma.

 

Sim, porque acredito que, debaixo da dor, dos medicamentos, do desânimo, das capacidades diminuídas, estou eu: a guerreira, de coração gigante, teimosa, gulosa, sonhadora, com algum mau-feitio, impulsiva, de lágrima fácil, tanto a chorar como a rir... pois sou uma rainha do drama, mas também do humor!

 

Não estou no cimo da montanha que me viram escalar, a muito custo, ao longo dos últimos anos. Não estou no fundo, caída, como já estive. Estou num abrigo, algures na subida, a recuperar. Por vezes tenho que descer, para voltar a subir. Nesta dura caminhada, é curioso ver quem vejo passar, quem me evita, quem me acompanha, quem me despreza, quem me dá algum alimento, força e ânimo.

 

Um dia voltarei ao cume. E sei que lá só encontrarei os verdadeiros amigos. Porque no topo da minha montanha só chega quem dá e recebe amor.

A Cinderela perdeu os dois sapatos

12.03.19 | Inês Aroso

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Ele sabe o que quer da vida. Ela sabe que o quer na sua vida. Ela não está incluída nos planos dele. Ela não compreende como é que algo tão intenso não é correspondido. Da última vez que conversaram, ela achou que era a última vez que se viam. E foi. Ela desistiu de lutar por ele. Limitou-se a viver. Um dia de cada vez. Às vezes, dois ou três dias, para custar menos. Felizes para sempre? Sim, nas histórias infantis e nos filmes românticos que nos impingem, para fazerem disparar as vendas de anti-depressivos e chocolates.

Mãe todos os dias

10.03.19 | Inês Aroso

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Há mulheres que dizem que é o dia mais feliz das suas vidas: o dia em que se tornam mães. Eu sou muito emotiva e poética, mas de feliz o dia, em si, tem muito pouco. Tem espera, tem dores, tem cortes, tem sangue, tem pontos, tem toques (nem perguntem!).


Mas uma coisa especial esse dia tem: magia, muita magia. Um golpe mágico que muda a vida de uma mulher para sempre. Parecem horas os segundos que esperamos por ouvir o primeiro choro do nosso bebé. É uma alegria quando ouvimos aqueles gritos (que nos irão tirar o sono por muitos anos). E tudo começa quando nos deitam o bebé no nosso colo e sentimos que o nosso coração saiu do peito.

 

Cada dia, cada semana, cada mês, cada ano, esse amor cresce e o nosso coração continua ali a saltitar fora do nosso peito, mesmo quando os nossos bebés já são adolescentes e até adultos, com os seus próprios filhos. A minha mãe e o meu pai são assim, com os seus 4 filhos, e eu sei que também serei igual com a minha filha. E nunca os compreendi tão bem como desde que fui mãe (desculpem lá ter sido tão chatinha, especialmente contigo, mãe).


Voltando atrás no tempo, não tenho a visão romântica dos tempos de bebé. Claro que os bebés são fofinhos… especialmente quando estão a dormir. Mas quando choram, gritam, sujam fraldas, não nos deixam dormir, começam a comer sopas e purés que borrifam por todo o lado, ficam doentes e temos mil e uma coisas para fazer, pouco tempo nos resta para respirar. Todas as mulheres merecem ter alguém que as ajude, que as mime, que as acompanhe desde as mais simples tarefas (mudar a fralda) até às mais complicadas (ensinar o pai a mudar a fralda).

 

Falando a sério, é fundamental um apoio contínuo, especialmente no primeiro ano da criança, venha ele de onde ele vier. As mulheres são heroínas por naturezas, as mães são super-mulheres, mas é fundamental que a fase inicial da maternidade seja apoiada pela família, amigos ou serviços especializados, para que a mãe nunca se esqueça que também é mulher.

 

Nas próximas crónicas, falarei de temas que todas as mães ou futuras mães precisam saber, mas não prometo receitas infalíveis. Na verdade, acreditem, por muito que leiam, aqui, ali, acolá, nada vos ensinará a ser mães. Comprei muitos livros quando a minha filha era bebé. Já os dei todos. A vida ensina-nos que cada filho é único. Com uma filha na adolescência, regressam os medos daqueles tempos em que ela era bebé: o que será que ela tem (sim, porque também deixam de falar), o que será que ela sente (ora triste, ora alegre), será que estou a ser boa mãe (às vezes, faz-me sentir que não)? Basta questionarem-se para saberem que, pelo menos, estão a dar o vosso melhor. E é isso… ser boa mãe.

 

Crónica originalmente publicada na Mag Next da Next 2 You.

Coração com seguro contra todos os riscos

10.03.19 | Inês Aroso

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Sabia que este dia chegaria. Que ias ter o teu primeiro desgosto de amor. Sabia que era inevitável. Não tinha receitas, não tinha conselhos, sabia que não tinha remédio, nem sequer uma vacina! Arde muito, dói que se farta, nunca te vais esquecer da pequena (que agora te parece grande) cicatriz que fica depois deste golpe inicial.

 

Tinha a certeza que no dia que te acontecesse te iria ouvir, se quisesses falar, abraçar, respeitar o teu silêncio e as tuas lágrimas. Mas só tu e um tal de tempo podem ajudar a curar. Por muito ridículo e impossível que te pareça neste momento, a dor vai passar.

 

Aliás, isto vai fazer-te mais forte e preparar-te para muitos outros desgostos de amor. Sim, porque vais apaixonar-te mais vezes. Vais ter medo, às vezes, porque não te queres desiludir e sofrer. Mas vive o amor! Um coração grande e lindo como o teu tem seguro contra todos os riscos! Uma coisa te garanto, só os corajosos têm desgostos de amor, porque dão a alguém um pedacinho do seu coração. O amor não é para os fracos! 

Não dás pontes sem nós!

09.03.19 | Inês Aroso

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Sountrack: Pedro Abrunhosa - "Pontes entre nós"

 

Desde criança, Cecília tinha um fascínio por pontes. Quando viajava para o Algarve, com os pais, nas férias de Verão, fazia questão de saber os nomes de todas as pontes pelas quais passavam. O pai brincava: "Olha que a ponte cai se disseres uma mentira...". E ela ria-se, encantada com os sons, as paisagens e as estruturas, que só nas pontes encontrava.

 

Cecília foi crescendo e com ela a vontade de visitar outras cidades, outros países, atravessar novas pontes. Curiosamente, nunca quis ser engenheira nem arquitecta. Nunca projectou ou desenhou uma ponte. Mas desenhou muitas, escreveu sobre algumas, fotografou quase todas. Descobriu que algumas quase caíam com o peso de cadeados e juras de amor, outras serviam para alguém pôr um ponto final à vida, outras eram pontes com História, outras eram locais de paragem obrigatória para selfies, outras eram ligadas a lendas ou superstições, outras eram simplesmente pontes. Algo todas tinham em comum: eram sempre a união entre duas margens.

 

Quando festejou 60 anos, os amigos e a família ofereceram-lhe um bolo em forma de ponte gigante. Ela riu-se às gargalhadas... A neta mais velha, Mariana, de 12 anos, perguntou-lhe: "Nunca percebi porque gostas tanto de pontes, avó... Podes explicar-me?". Cecília ficou com um ar mais sério, surpreendida com a pergunta da neta, mas confessou: "As pontes sempre me mostraram que, como em tudo na vida, há dois lados. A beleza das pontes está na união que simbolizam entre lados opostos. Como se nada fosse impossível de ligar e harmonizar. Há que fazer a travessia, seja devagar, com pressa, mas é sempre possível chegarmos de uma margem à outra. Às vezes ficamos parados na ponte, outras vezes as pontes caem, outras sentimo-nos marginais. Nem todas as pontes são iguais, mas cabe-nos a nós atravessarmos as pontes que nos surgem na vida, escolhermos essas pontes e, muitas vezes, sermos essa pontes. Não somos pontes em betão, em pedra, em metal, ou em vidro... somos pontes feitas do amor que damos e recebemos".

 

Fez-se silêncio, na sala. Algumas lágrimas e olhos brilhantes iluminavam os rostos atentos. A neta mais nova, Clara, de 5 anos, interrompeu aquele impasse: "Pois bem, avó, acabo de descobrir que esta ponte é feita de chocolate, ainda bem que não é de pedra", enquanto enfiava os dedos no bolo. Entre um ralhete da mãe e a gargalhada geral, a pequena Clara, de lábios esborratados com chocolate, beijou a bochecha da avó. E assim, mesmo sem perceber a explicação, reforçou a ponte de doçura e amor que as unia.

"Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida"

08.03.19 | Inês Aroso

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Graça fechou a porta. Sem pressas. Com solenidade.

 

Pegou nas duas malas e entrou no elevador. Um suspiro. Carregou no botão do piso 0.

 

Lá fora, a chuva intermitente fê-la caminhar mais rapidamente para o táxi que a esperava. O motorista colocou as malas na bagageira e ela sentou-se, por fim, no banco de trás.

 

Olhou para a chave da casa que já fora sua, que agarrava, com força, na mão esquerda. Tinha as marcas da chave na palma da mão. Como tinha a memória pejada de marcas de 15 anos de histórias naquela casa.

 

Guardou a chave. Olhou pela janela uma última vez. Tencionava nunca mais voltar ali. Onde fora tão feliz. Mas também onde fora tão infeliz.

 

Quando chegou ao aeroporto, Filipa e Sandra esperavam por ela. As lágrimas, que, até então, conseguira manter guardadas, escorregaram, teimosas. As amigas não a tinham deixado ir sem uma despedida lamechas. Ela tinha pedido para não irem, porque emocionava-se muito nas despedidas em aeroportos. Mas elas sabiam que, lá no fundo, ela precisava daquele abraço. Fizeram piadas, tiraram selfies e ficaram com ela até esta entrar na sala de embarque. No final, ofereceram-lhe um presente, que parecia um livro, que ela só poderia abrir no destino. 

 

Depois de várias horas de viagem, quando finalmente chegou ao hotel onde iria passar a semana seguinte, enquanto não começava o novo emprego e ia para a nova casa, deitou-se na cama, exausta e acabou por adormecer.

 

Quando acordou, com os raios de sol auspiciosos a aquecerem-lhe o rosto, sorriu. Aproveitou o chuveiro do hotel, para lavar corpo e alma e desceu para o pequeno-almoço, esfomeada, como ficava em todas as manhãs felizes. Era a primeira na sala, pois madrugara, e sentia-se verdadeiramente renovada.

 

De volta ao quarto, lembrou-se do presente das amigas. Sentou-se na cama e desembrulhou a prenda. Afinal, não era um livro. Era um diário. Na primeira página, as amigas tinham escrito, em letras bem grandes, simplesmente isto:

"Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida".

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