"Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida"
Graça fechou a porta. Sem pressas. Com solenidade.
Pegou nas duas malas e entrou no elevador. Um suspiro. Carregou no botão do piso 0.
Lá fora, a chuva intermitente fê-la caminhar mais rapidamente para o táxi que a esperava. O motorista colocou as malas na bagageira e ela sentou-se, por fim, no banco de trás.
Olhou para a chave da casa que já fora sua, que agarrava, com força, na mão esquerda. Tinha as marcas da chave na palma da mão. Como tinha a memória pejada de marcas de 15 anos de histórias naquela casa.
Guardou a chave. Olhou pela janela uma última vez. Tencionava nunca mais voltar ali. Onde fora tão feliz. Mas também onde fora tão infeliz.
Quando chegou ao aeroporto, Filipa e Sandra esperavam por ela. As lágrimas, que, até então, conseguira manter guardadas, escorregaram, teimosas. As amigas não a tinham deixado ir sem uma despedida lamechas. Ela tinha pedido para não irem, porque emocionava-se muito nas despedidas em aeroportos. Mas elas sabiam que, lá no fundo, ela precisava daquele abraço. Fizeram piadas, tiraram selfies e ficaram com ela até esta entrar na sala de embarque. No final, ofereceram-lhe um presente, que parecia um livro, que ela só poderia abrir no destino.
Depois de várias horas de viagem, quando finalmente chegou ao hotel onde iria passar a semana seguinte, enquanto não começava o novo emprego e ia para a nova casa, deitou-se na cama, exausta e acabou por adormecer.
Quando acordou, com os raios de sol auspiciosos a aquecerem-lhe o rosto, sorriu. Aproveitou o chuveiro do hotel, para lavar corpo e alma e desceu para o pequeno-almoço, esfomeada, como ficava em todas as manhãs felizes. Era a primeira na sala, pois madrugara, e sentia-se verdadeiramente renovada.
De volta ao quarto, lembrou-se do presente das amigas. Sentou-se na cama e desembrulhou a prenda. Afinal, não era um livro. Era um diário. Na primeira página, as amigas tinham escrito, em letras bem grandes, simplesmente isto: