As bananas também se apaixonam
Eram duas bananas. Iguais a tantas a outras. Ainda verdes e rijas, viajaram dos confins, juntamente com as outras, para um contentor, para um navio, para um armazém e, finalmente, para um hipermercado de uma cidade dos subúrbios.
Estavam quase amarelas, quando o executivo apressado as meteu à pressa num saco, juntamente com 6 ou 7 irmãs. "Pelo menos é jeitoso", disse uma das mais atrevidas enquanto ele as arrumava na fruteira, já em casa. O amarelo delas era cada vez mais exuberante e apelativo. Por isso, todos os dias, ao jantar, ele comia uma banana, de sobremesa. Mas foi passar uns dias fora, e duas delas ficaram esquecidas, em casa.
Aquele tempo sozinhas, fez com que se apaixonassem, enquanto se tornavam castanhas, moles, frágeis. Quando o homem chegou, finalmente, e olhou para a fruteira, elas pensaram que se iam separar. Apesar do medo, gritaram e até se tentaram esconder atrás das laranjas, não fossem elas bananas corajosas e apaixonadas. Mas não, ele não as ia comer! Ele trazia mais bananas! Verdes, como elas, quando eram mais novas! Olhou para as duas bananas pintadas e envelhecidas com desprezo, mas não as separou. Deitou-as ao lixo.
E, mesmo lá, naquele saco escuro e mal-cheiroso, ficaram felizes. Envelheceram e apodreceram juntas. "Quem dera a muitos humanos", disseram, no último suspiro.