A última dança
Naquela tarde, Alice sabia que era a última vez em que festejava algo. No fundo do coração, sentia isso, mas não queria admitir. Juntou as pessoas cujo amor e a amizade a faziam sentir feliz. Sentiu-se grata por amar e ser amada por aquelas pessoas maravilhosas. Mas sabia que não as podia cotinuar a preocupar, incomodar, entristecer ou até magoar.
Fugiu. E nessa fuga desenfreada, caiu num poço profundo e sombrio. Passaram-se dias, semanas, meses. Com frio, saltitava no poço onde caíra, mas sempre que, agarrada à escada, parecia estar quase a conseguir salvar-se, escorregava e magoava-se. Cada tentativa de subida era cada vez mais dolorosa. A cada queda, o corpo ficava mais pisado e dorido, as forças eram cada vez menores e o cansaço maior. Sempre que pedia ajuda, feria alguém que estava do lado de fora e se esforçava por a retirar daquele lugar.
Porém, um dia, o inesperado aconteceu. Quando acordou, não estava sozinha: alguém tivera a ideia de descer para a ir buscar. Alguém com um sentimento intenso mas difícil de verbalizar foi capaz de ir a um local tenebroso, para a resgatar. Alguém com inteligência para perceber que ela só conseguiria sair dali se percebesse que não estaria sozinha se caísse. Alguém com coragem para a retirar da escuridão. Alguém com a capacidade de a compreender sem a julgar. Antes de subirem, porém, os seus corpos dançaram a música que só eles ouviam. Com a magia da primeira dança e com o fulgor da última.