A lágrima solitária
Não era uma tarde igual às outras. Primeiro, uma lágrima escorregou-me pela face. Foi-se juntar a ela outra lágrima, que escorregou pela outra face.
A lágrima não sabe ser sozinha. Eu também não. Sinto-me sozinha desde que a nuvem negra me cobriu. Há quem não goste de me ver assim, há quem não tenha paciência para me aturar assim, há quem eu não deixo que me veja assim… Algumas pessoas afastaram-se. Afinal, se eu mesma me afasto de mim, quem sou eu para censurá-los?
Como é que tudo começou? Foi a vida? Foi o destino? É algo genético? Inicialmente, culpei o trabalho e a minha incapacidade de lidar com a maldade alheia. Depois, comecei a pensar noutras coisas. Nas boas e nas más. As boas memórias fazem-me sentir nostálgica e choro. As más memórias entristecem-me e choro. Quanto sinto força, escrevo.
Umas vezes desisto. Outras vezes insisto. Penso em quem amo. Persisto. Tenho que ir à luta. Tenho que ser feliz. As coisas começam a ficar mais claras quando apenas uma palavra brota da minha alma: mudança! Preciso mudar de trabalho, de casa, das pessoas que não me querem bem.
Estou cansada de chorar, lágrimas visíveis e invisíveis. Preciso que alguém me abrace e diga: vai ficar tudo bem! Até lá, continuo só, sozinha, solitária, como cada cada lágrima que caiu naquela tarde. Não tenho medo de chorar, já tive. Agora, temo deixar de sonhar.