Carta ridícula (não, não é de amor)
Cara Maria,
Recebi a tua missiva. Tens toda a razão, sou assumidamente ridícula. Pelas oportunidades que dou a uma amizade, mesmo que me desiludam uma e outra e mais outra vez. Por acreditar que há algo de bom em pessoas que demonstram ser uns valentes trastes. Por esperar sempre que haja compaixão com a minha dor ou com a dor alheia. Por a gratidão ser algo que não consta dos dicionários de vida de grande parte das pessoas com quem me cruzo. Por ainda sofrer ao ver corações negros de tanta maldade, mais por pena deles, do que de mim. Por insistir em acreditar que o bem e os bons vencerão. Por não ter medo que me achem ridícula, mesmo quando ando desajeitada e despenteada. Porque falo alto. Porque me calo. Porque reclamo. Porque elogio. Porque desisto. Porque insisto. Porque acredito. Porque deixo de acreditar. Porque tento mudar o mundo. Porque tento mudar-me para melhor.
Sou mesmo ridícula, Maria. Mas não me importo. E vou explicar-te com uma metáfora (saberás o que é, certamente). Não sou um sucedâneo de chocolate a saber a sabão. Sou chocolate genuíno. Há quem não distinga. Mas há que educar o palato. Ou, então, morrer sem saber a diferença.
O meu conselho: continua ao nível dos sucedâneos, pois ouvi dizer que os chocolates estão esgotados, como os combustíveis estiveram nos últimos dias ou só se encontram nas prateleiras mais altas dos supermercados. Não sei se chegarás lá...
A tua escritora ridícula preferida,
Chocolateira Gorducha Manca de Canadianas (quatro nomes próprios, como a realeza).