28.02.21 | Inês Aroso |
Andreia tinha lido muitas teorias sobre o copo meio vazio ou meio cheio, numa série de metáforas que se tornaram lugares-comuns. E se havia coisa que ela fugia, não por arrogância, mas por teimosia, era dessas vulgarizações do pensamento, tão confortáveis para (...)
02.08.19 | Inês Aroso |
Era uma vez um polvo sonâmbulo. Durante o Verão, todas as noites vagueava pela pequena vila onde morava e estendia os seus tentáculos pelas janelas abertas dos quartos dos habitantes. Garante quem o viu que só escolhia os quartos onde dormiam as mulheres mais bonitas, (...)
A aspereza dos dias não lhes roubara a doçura das almas. Os seus lábios tocaram. Era um beijo leve, mas sentido. Quente, mas refrescante. Luminoso, mas sem medo das sombras. E o que parecia uma brisa era, afinal, um vendaval de ternura. Sentiam-se num turbilhão de (...)
Naquela tarde, Alice sabia que era a última vez em que festejava algo. No fundo do coração, sentia isso, mas não queria admitir. Juntou as pessoas cujo amor e a amizade a faziam sentir feliz. Sentiu-se grata por amar e ser amada por aquelas pessoas maravilhosas. Mas (...)
Angélica acreditava nas pessoas. Duarte acreditava em factos. No dia em que se conheceram, Angélica acreditou que Duarte era um bom homem. Duarte acreditou que Angélica era gorda. Apesar desse facto, Duarte resolveu namorar com Angélica. Era um facto que precisava de (...)
Ângela tem 41 anos, dois filhos, é casada. Quando a filha mais velha entrou na universidade, resolveu voltar a estudar. Como estava desempregada, para ajudar nas despesas, ficou a trabalhar em part-time na secção de limpeza da universidade da filha. Foi a vaga mais (...)
- "Avó, conta-me histórias de amor", pediu-lhe Sofia, de 15 anos, enquanto viam os barcos no cais, sentadas no banco, encostadas uma à outra, com carinho. - "Está bem, Sofia, mas quando o veleiro partir, vamos para casa... Ora bem, vou começar... Isaac apaixonou-se (...)
Título: Cláudia Azevedo Fotografia: Inga Freitas Texto e olhar: Inês Aroso Sara, 41 anos, cabelos castanhos, entra na sala quase vazia do café e escolhe o lugar do canto. Aquele local, miraculosamente esquecido pelos turistas que invadem a cidade, foi dos poucos (...)
Lina ama a dias. Despe o corpo de pudores. Veste a alma de sonhos. Ama dia-sim, dia-não. Nos dias em que não ama odeia. Odeia o amor. Nesses dias-não, amaldiçoa o dia em que o conheceu. Recorda momentos que viveu com ele com tanta nitidez e pormenor que os poderia (...)
Eram duas bananas. Iguais a tantas a outras. Ainda verdes e rijas, viajaram dos confins, juntamente com as outras, para um contentor, para um navio, para um armazém e, finalmente, para um hipermercado de uma cidade dos subúrbios. Estavam quase amarelas, quando o (...)