28.02.21 | Inês Aroso |
Andreia tinha lido muitas teorias sobre o copo meio vazio ou meio cheio, numa série de metáforas que se tornaram lugares-comuns. E se havia coisa que ela fugia, não por arrogância, mas por teimosia, era dessas vulgarizações do pensamento, tão confortáveis para (...)
O perigo de parar era maior do que se pensava. Os cálculos da medicina e da matemática não previram tudo. Não consultaram filósofos. E estes, ai estes, teriam alertado para o grande final. Não havia grandes erros nos números de doentes e mortos, nem no cenário de (...)
Sabia que não lhe podia contar o que a preocupava. Ele ia entender, não a ia julgar, mas iria ficar magoado com a soma das palavras dela. Ela antecipava a dor dele e, por isso, por muito que lhe apetecesse ser abraçada por ele e livrar-se do segredo que a sufocava, (...)
Alguém passou na rua com o teu perfume. Lembrei-me de ti. Não é que seja novidade, pois penso muitas vezes em ti. Mas fiquei sobressaltada, parecia que estavas ali, perto de mim. Bastava seguir o rasto daquele aroma e alcançava-te. É avassalador perceber como as (...)
02.08.19 | Inês Aroso |
Os olhos são o espelho da alma, diz a sabedoria popular. Não importa a cor, o formato, as dioptrias (eu, míope, me confesso) ou outros pormenores. Na verdade, o que interessa no olhar é aquilo que ele transmite. Medo, amor, desdém, maldade, inveja, bondade, alegria, (...)
Naquela tarde, Alice sabia que era a última vez em que festejava algo. No fundo do coração, sentia isso, mas não queria admitir. Juntou as pessoas cujo amor e a amizade a faziam sentir feliz. Sentiu-se grata por amar e ser amada por aquelas pessoas maravilhosas. Mas (...)
Angélica acreditava nas pessoas. Duarte acreditava em factos. No dia em que se conheceram, Angélica acreditou que Duarte era um bom homem. Duarte acreditou que Angélica era gorda. Apesar desse facto, Duarte resolveu namorar com Angélica. Era um facto que precisava de (...)
27.05.19 | Inês Aroso |
Não era uma tarde igual às outras. Primeiro, uma lágrima escorregou-me pela face. Foi-se juntar a ela outra lágrima, que escorregou pela outra face. A lágrima não sabe ser sozinha. Eu também não. Sinto-me sozinha desde que a nuvem negra me cobriu. Há quem não (...)
Ângela tem 41 anos, dois filhos, é casada. Quando a filha mais velha entrou na universidade, resolveu voltar a estudar. Como estava desempregada, para ajudar nas despesas, ficou a trabalhar em part-time na secção de limpeza da universidade da filha. Foi a vaga mais (...)
- "Avó, conta-me histórias de amor", pediu-lhe Sofia, de 15 anos, enquanto viam os barcos no cais, sentadas no banco, encostadas uma à outra, com carinho. - "Está bem, Sofia, mas quando o veleiro partir, vamos para casa... Ora bem, vou começar... Isaac apaixonou-se (...)